segunda-feira, 28 de maio de 2012

TRECHO DO LIVRO "PARATY NO SÉCULO XX"


FATOS ALEGADOS PARA A DECADÊNCIA.

Por que a decadência aconteceu em Paraty  de maneira tão violenta?

A transferência do Caminho do Ouro tem sido dada como um dos motivos. Entretanto,  ela atingiu o comércio entre Paraty e as minas gerais, diminuiu o dinheiro circulante na cidade, mas não atingiu a produção. Também a construção da Estrada de Ferro São Paulo - Rio, propiciou aos cafeicultores do Alto - Paraíba e mesmo de regiões do Vale do Paraíba, a transferir a exportação de seu produto para o porto de Santos, outro fator que diminuiu o dinheiro circulante na cidade, ainda  atingindo mais ao comércio, sem reflexos significativos na produção.  No entanto, o grande baque na economia e na produção do município, foi a abolição dos escravos.

A Lei Áurea de 13 de maio de 1888 pegou os coronéis alambiqueiros de Paraty desprevenidos,  e a conseqüente falta do braço escravo motivou uma série de desativação de engenhos e aqueles que ficaram em suas fazendas, pouco a pouco foram deixando de produzir. De  engenhocas movidas a burros  aos engenhos de porte, movidos a roda d’água, alguns deles estavam  empenhados por empréstimos ao Banco do Brasil, razão porque,  muitos foram à praça e como não apareceram arrematadores, o banco avocou as propriedades e a produção parou. Engenhos fechavam! Entretanto, ainda durante o princípio do século, a cachaça continuou como sustentáculo da economia claudicante.

Engenho Boa Vista 03 – Em frente à cidade

            Dos antigos engenhos  que, presumidamente, existiam desde Martim de Sá, ao Sul, até Taquari, ao Norte, no inicio do século,  por informação de Francisco Gama  Gonçalves, filho de produtor de cachaça, crescido entre aqueles que viviam do ramo, conseguiu-se encontrar os seguintes:



01 -  Boa Vista 1  Dr. João Lopes

02 – Boa Vista 2 - Dr. José Borges

Boa vista – 3 -Antigo Engenho a vapor, de herdeiros de Domingos Feliciano Corrêa. – Pertencera, entre outros, a Johann Ludwig Ermann Bruns, pai de Júlia – Julia Mann após seu casamento com o escritor alemão Tomas Mann

04 – Canhanheiro – Jerônimo Ribilett

05 – Bom Jardim-1   Henrique Berchand

06 – Bom Jardim -2 –Henrique Berchand

07 – Tucupê – 1 – João Gama

08 – Tucupê – 2 – João Gama

09 – Praia Grande – Antonio Feliciano de Araújo

10 – Jurumirim – Luiz José Gonçalves

                11 – Praia do Baré  1– Francisco Isidoro

                12 – Praia do Baré 2  Francisco Isidoro

                13 – Praia do Guerra - Antonio Guerra

                14 – Praia da Areia – José Bonifácio

                15 – Praia da Lula – Proprietário ignorado

16 – Praia da Conceição – Benedito Moura

17 – Praia do Preguiça – Padre Viana e sua irmã Catarina Viana

18 – Ilha do Algodão l – Padre Viana e sua irmão Catarina Viana

19 – Ilha do Algodão 2 – Padre Viana e sua irmã Catarina Viana

20 – Ilha do Algodão 3 – Padre Viana e sua irmã Catarina Viana

21 – Sucuri – João Jaques de Moraes

22 – Serraria – João Lourenço de Oliveira

23 – Pastinho – Manoel do Sobrado

24 – Porto Grande – Manoel Antonio Vasco da Gama

25 – Diogo Vaz – Diogo Vaz

26 – Fundão – Pedro Erasmo de Alvarenga Corrêa

27 – Barreiros – Espanhol – nome ignorado

28 – Caçada – Benedito Alves

29- Rio Turvo – Benedito Alves

30 – Itatinga – Gabriel Arcanjo Lopes de Alvarenga

31 – Paraty-Mirim - Manoel José de Souza

                32 – Paraty-Mirim, Subida do Indio – Eng de Açúcar – Manoel José de Souza

33 – Pedras Azuis – Cap. Antonio Ferreira Vasconcellos França

34 – Sobradinho – Antonio Manoel Alves – pai

35 – Sertão da Independência – l – Jose Avelino de Souza

36 – Sertão da Independência – 2 -  João Avelino de Souza

37 – Faz. Laranjeiras - José Santinoni 

38 – Martim de Sá – Proprietários ignorados

39 -  Praia Grande da Cajaíba – Cap. José Araújo

40 – Ponta da Caraíba – Cap. Manoel Bulé – Cachaça e açúcar

41 – Praia do Sobrado – Cap. José Viana – Irmão de Padre Viana

42 – Praia do Engenho – Cap. Pedro de Almeida

43 – Praia das Antas – Cap. Faustino Souza

44 – Mamanguá-Rio Grande – Cap. Antonio Pacheco

45 –Mamanguá –Rio Turvo- Padre Manoel Alves Veludo

46 – Mamanguá – Regato – José Moreira

47 – Rio dos Meros – Engenho do Campinho – José de Souza

48 – Rio dos Meros – 2 – João de Souza Magalhães

49 – Rio dos Meros – 3 – Barnabé Ramos de Oliveira

50 – Rio dos Meros 4 – Antonio Luiz de Souza

51 – Rio dos Meros -5 – Crispim Rafael de Alcântara

52 – Rio dos Meros – 6 – Dr. João Lopes

53 – Olaria  1– Abílio  Dutra

54 – Olaria 2–Carlos dos Santos Dias

55 – Olaria -3 – Mar. Manoel Eufrásio dos Santos Dias

56 – Olaria – 4 – Luiz José Viera (caldeira)

57 – Ribeirinho – João José Gomes

58 – Faz.Preta – Manoel Francisco Peres dos Santos

59 – Pedraria – Manoel Bento Souza

60 –Várzea da Marina – Marina Silva Santos

61 – Corisco – José Theophilo da Costa Moreira

62 – Faz N. S. da Conceição-Bananal – Da. Geral da Maria Silva- Santa casa de Misericórdia de Paraty.

63 –Faz. Cachoeira – Cap. Apolinário de Paula e Silva

64 – Faz. Cachoeirinha – Cap. Apolinário de Paula e Silva

65 – Faz. Bananal –  Dr. Paulo Souza

66 – Faz. Bananal -  Francisco Costa (pai do Dr. Samuel Costa)

67 – Faz. Carretão – Francisco Costa

68  - Alto Bananal  - Da. Carolina Santos-

69 – Faz. Pedra Branca – Tte. Francisco Manoel de Alvarenga e Souza

70 – Bom Retiro – fundos – Eng da Moenda – José Moreira

71 – Caboclo – José Rodrigues de Carvalho

72 – Faz. Bom, Retiro – Bernardino Moreira (pai)

73 – Várzea do Corumbê –Eng do Malvão – Benedito Malvão (pai)

74 – Barra do Corumbê – Benedito Malvão (pai)

75 – Corumbê – João Soares

76 – Faz. Preta do Saco Grande – Antonio Florêncio

77 – Alto do Corumbê  - Geraldo  Silva

78 – Saco Grande –1 - José Marcelino de Oliveira Garcez

79 – Saco Grande – 2 – Antonio Bittencourt

80 – Ponta da Navalha – Manoel Dutra

81 –Praia Grande – Cap. Joaquim Lourenço de Oliveira

82 – Sertão do Saco Grande – Cap. Joaquim Lourenço de Oliveira

83 – Praia do Engenho – Perciliana Moura

84 – Eng do Buraco – Graúna – Perciliana Moura

85 – Graúna –Julio Honorato

86 – Rio Pequeno – José Coelho

87 – Nanhanquara – Joaquim Dutra

88 – Barra Grande – Honório Lima

89 – Taquari  1-  Engenho Central – Dr. Alberto Maranhão

90 – Taquari – 2 – Faz. do Bertrand – Bertrand de tal

91 – Sertão do Taquari - -Antonio Zoroastro

92 – Barra Grande –Eng. da Colônia –Colônia de franceses


Engenho Bom Retiro  desativado

Nota 1Os grifados em negritos referem-se aos engenhos tocados à roda d’água. Os demais movidos a burro.

Nota 2  - Havia engenhos de fazendas limítrofes pertencentes a familiares, como dos irmãos José e João Avelino Souza no Sertão da Independência e Manoel José de Souza, no Paraty-Mirim – Domingos Feliciano Correa em Boa Vista,  Pedro Erasmo de Alvarenga Corrêa no Fundão e Gabriel Lopes de Alvarenga, na Itatinga,  eram parentes próximos. Luiz José Gonçalves era casado com dona Clara Gama e João  Lourenço de Oliveira com sua irmã Francelina Gama. No fim do século  do século restavam:

01 – Itatinga, de Gabriel Archanjo Lopes de Alvarenga (neto)

02  - Vamos Nessa – Luiz Mello

03  – Corisco – Aníbal  Gama (sobrinho)

04 – Muricana – Antiga Fazenda Bananal

05  - Coqueiro- Eduardo José Mello

06 – Maré Alta – Dom João de Orleans e Bragança/Carlos José Gama Miranda

07 – Maria Izabel – Maria Izabel Costa

Na década de l930/40, na cidade ainda havia dois armazéns de engarrafamento de cachaça: na Rua Jácome de Mello (ant. Rua da Lapa) do senhor Leontino Carlos de Mello e Souza e na Rua Dr. Pereira, do senhor José Conti. Ocupavam os serviços dos tanoeiros Antonino  Benedito do Carmo e Diógenes de tal.

Independente das lutas políticas, na cidade e na zona rural a vida continuava. Havia festas e folguedos e duas bandas de música – 25 de dezembro e Lira da Juventude disputavam o privilégio de abrilhantar as festas, bandas agregadas às facções políticas, dominadas pela mesma paixão, embora levassem a competição para o campo musical.


 Lira da Juventude - 1925


Nota do autor: Sobre as várias disputas, uma ficou na história e, em 1937, quando entrei para o grupo da Lira da Juventude, ela ainda era lembrada, não se podendo duvidar da sua veracidade, porque eram os vencidos que contavam. Os mestres das duas bandas ajustaram uma disputa musical em certo domingo a oficializar, ambas executando a mesma peça musical. No sorteio realizado caiu uma cavatina para clarinete, que fez vibrar os músicos da Lira, por que seu maestro, Lindolpho Pinto da Silva, era considerado  o melhor clarinetista de Paraty e municípios vizinhos, enquanto a 25 de Dezembro só possuía clarinetistas principiantes. Foi dado tempo para os ensaios e no dia aprazado as duas bandas se postaram em frente à igreja matriz, os músicos  trajando seus uniformes de gala. No sorteio ali realizado, coube a 25 de Dezembro primeiro se apresentar e a curiosidade geral era para ver qual o clarinetista que se apresentaria. Para surpresa de quantos compareceram  para apreciar a disputa, adiantou-se com sua cadeira e estante, Ezequiel Bigodinho, respeitado bombardinista. O regente deu o sinal e o bombardino do Ezequiel encantou a todos pela maviosidade do som e perfeição da execução da peça. Foi aplaudido até pelos músicos  da Lira. Chegou a vez da apresentação da Lira e mestre Lindolpho se adiantou com a sua clarineta, dele todos esperando a execução de um virtuose. O regente desceu a batuta  e Lindolpho iniciou o solo.  Cinco compassos adiante seu clarinete piou. Debaixo daquele “úúú” de espanto, o mestre pediu licença, trocou a palheta do instrumento,  cuspiu nas sapatilhas para umedecê-las e deu sinal de que estava pronto para a execução. O solo foi reiniciado, mas logo aos primeiros compassos a clarineta voltou a piar e por mais que o mestre tentasse levar a execução ao fim, o regente encerrou a apresentação, confessando a derrota. Por esse malogro mestre Lindolpho se desligou da banda, passando a professor de piano para as poucas famílias que se davam ao luxo de possuir o instrumento.